Criada em 2016 com a missão de levar as tecnologias de testagem desenvolvidas nas universidades para o mercado, a Safetest aproveitou seu expertise no assunto e vai lançar, nos próximos dias, um teste especialmente formulado para a detecção do novo coronavírus.
A startup mineira, que está em vias de aprovar, junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), um teste para a Leishmaniose Canina – doença que pode ser transmitida de animais para humanos e vice-versa – , criado em parceria com a UFMG, aproveitou o know-how e adaptou sua infraestrutura em biotecnologia para, em dois meses, criar uma versão de testagem capaz de atender às recentes necessidades criadas pela pandemia de Covid-19 com prazos e custos menores.
“Graças a esse primeiro desenvolvimento, entendemos que o método que criamos pode ser utilizado para qualquer doença infecciosa”, explica Felipe Peixoto, cofundador e CEO da startup. Segundo ele, o teste só não ficou pronto antes por falta de amostras de sangue positivas. Ou seja, a empresa teve que esperar a doença chegar até aqui para começar o trabalho.
Com tecnologia 100% nacional, o Safetest Covid-19 é um teste sorológico rápido para detecção dos anticorpos IgG e IgM contra o Sars-CoV-2 semelhante ao teste de dosagem de glicose, feito com um gota de sangue. Peixoto explica que a principal diferença na comparação com as alterativas de mercado é o uso de partículas virais sintéticas de base proteica, ou seja, criadas em laboratório, ao contrário dos antígenos usados nos processos tradicionais – e importados da China, da Coreia do Sul e da Espanha, já que não há similares nacionais.
Apesar de facilitar o desenvolvimento, do ponto de vista logístico, e de baratear o processo, o executivo diz que a escolha pela tecnologia foi muito mais influenciada pelo fator qualidade, avaliado em função de dois indicadores principais – sensibilidade e especificidade. “Estamos terminando a validação clínica com 400 amostras, mas os resultados preliminares indicaram 100% de sensibilidade e 99,5% de especificidade. Os testes aprovados pelo FDA [entidade norte-americana correspondente à Anvisa], de todas as partes do mundo, tem índices muito semelhantes”, diz Peixoto. E, quanto mais altos estes indicadores, menor a possibilidade de dar falso positivo ou falso negativo.
Segundo o executivo, o teste pode ser um aliado poderoso nos processos de reabertura, de maneira a conduzi-los de forma mais segura. Isso porque ele identifica as fases de contaminação. Caso o Safetest Covid-19 mostre a presença de IgM e não de IgG, o diagnóstico sugerido é que o paciente foi recentemente infectado pelo coronavírus Sars-Cov-2 (fase aguda da infecção) e, possivelmente, o vírus pode estar circulando no paciente. Se o teste mostrar IgG positivo e IgM negativo, indica que a pessoa já teve contato com o vírus em algum momento e a fase aguda da infecção já passou, estando o paciente na fase crônica ou já curado. O resultado IgM e IgG positivos indica que o contaminado se encontra na fase transitória da infecção, entre a fase aguda e a fase crônica. A produção de anticorpos IgG pode prevenir uma reinfecção. Neste caso, se for exposto ao mesmo microrganismo, o corpo poderá responder com mais intensidade e rapidez.
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O executivo explica que outro benefício do teste criado na capital mineira é o fato de ser universal, o que significa que ele é capaz de detectar qualquer variação já identificada do vírus, em qualquer parte do mundo. “Mais de 3.000 genomas foram analisados”, conta.
A estratégia comercial da empresa contempla duas versões do teste: o Elisa, que possibilita a testagem de 96 amostras simultaneamente, para laboratórios, e em fita, semelhantes ao de gravidez, para o consumidor final. Peixoto diz que a composição do custo está sendo finalizada, mas que a estimativa é de que não passe de R$ 50. “Como ainda não é permitido que as pessoas retirem seu próprio sangue para a testagem, elas terão que fazer na farmácia. O resultado sai em até 15 minutos.”